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O líder de si mesmo

Atualizado: 23 de ago. de 2021

Aquele que não tem subordinados diretos e que deve prestar atenção nas suas próprias iniciativas, na sua própria performance, é líder de si mesmo. Trata-se do nível mais básico de liderança numa estrutura organizacional, abaixo do "líder dos outros", que por sua vez está subordinado ao "líder de líderes". Num nível superior das organizações empresariais, há ainda o "líder corporativo". Estamos falando de pelo menos quatro níveis de liderança, o que faz parecer fácil ser um "líder de si mesmo" por ele estar no primeiro nível. Mas quantas pessoas você conhece que não conseguem liderar a si mesmas?


Ser um bom líder de si mesmo resulta em saúde física, sucesso no trabalho, sucesso nas relações interpessoais, tempo para aproveitar a família e a vida... Enfim, uma lista de coisas óbvias as quais buscamos o tempo todo, que são aparentemente expostas nas mídias sociais, mas que podem ser difíceis de conjugar para muitos de nós. Mesmo aqueles que se mostram felizes em tempo integral na Internet ou na vida real enfrentam desafios na liderança de si mesmos. Estamos quase sempre apressados, preocupados, procrastinando, com medo ou frustrados, querendo mais daquilo que gostamos ou menos daquilo que não gostamos. A luta pela felicidade é diária e devemos encarar que sempre haverá os momentos de decepção e angústia, mas são as dores que nos fazem desenvolver recursos. Desde o início da vida, experimentamos a rejeição, o abandono, a manipulação, a humilhação e a traição. São exatamente essas dores que nos dão o poder da genialidade, da conexão, da influência, da disciplina e da competitividade. A liderança de si mesmo consiste na capacidade de sobreviver ao "deserto" e fazer a travessia dos momentos difíceis até o "oásis". Mais adiante haverá outro longo percurso de areia sob o sol escaldante, mas os oásis se tornarão mais fáceis de ser encontrados para quem estiver disposto a se desenvolver.


Tive um professor muito especial na pós-graduação. Além de ter nos ensinado brilhantemente sobre "Estratégia de Empresas", que era a sua disciplina, um dia, ele escreveu no quadro a fórmula "P=NAV", onde P é personalidade, N é natureza, A é ambiente e V é vontade. Ou seja, nossa personalidade é formada por uma herança genética que vai recebendo influências do meio em que vivemos ao longo do tempo. Contudo, nossa vontade de ter uma vida melhor, de ser alguém melhor, pode mudar tudo! O professor nos deu o exemplo hipotético de um garoto pobre nascido numa comunidade violenta. Este garoto não teria dedos longos ou um verdadeiro talento para a música; seus pais não eram músicos e ele não herdou muitas qualidades musicais. A comunidade na qual o garoto vivia não tinha uma escola de música, seus amigos não eram músicos, enfim, o ambiente não era propício e ninguém imaginava que ele poderia se tornar um grande músico. Mas numa tarde qualquer, assistindo à TV do vizinho pela janela, de pé sobre um bloco de concreto, ele viu um pianista encerrando sua apresentação e sendo ovacionado pela plateia. Naquele momento, o garoto decidiu ser um pianista. Ele estudou e teve que se esforçar mais do que aqueles que recebem um dom divino para a música, mas chegou lá! Um dia, num concerto, foi aplaudido de pé. A vontade que o garoto sentiu de ser importante através da música mudou a sua história e nos mostra como um bom líder de si mesmo acaba por influenciar multidões. E você já deve ter percebido que nosso sucesso profissional é proporcional à quantidade de pessoas que influenciamos, certo?



Talvez você esteja se perguntando como ser um bom líder de si mesmo. Geralmente, problemas complexos exigem soluções complexas, mas vamos nos aprofundar um pouco no assunto para que você conclua esta leitura com um ponto de partida. Você nasceu com determinados instintos e capacidades herdadas que, nos primeiros anos de vida, foram seus únicos guias. Com o passar do tempo, as pessoas que estavam ao seu redor, a sociedade, os amigos e as histórias foram lhe ensinando regras, lições e conceitos que você foi tentando conciliar com sua herança genética para gerar felicidade. Quando alinhados, suas capacidades e o ambiente proporcionam o chamado "estado de flow" (estado de fluidez, ou felicidade).


O fiel da balança para atingir o estado de flow é o que meu professor chamou de "vontade" naquela fórmula. Há um componente essencial à vontade para que seja atingido o estado de flow e este componente é a inteligência emocional. Se você quer ser um líder de si mesmo cada dia melhor, você precisará desenvolver a sua inteligência emocional eternamente. Um fato curioso sobre inteligência emocional é que não podemos controlar as emoções, mas podemos controlar os sentimentos. As emoções surgem antes dos sentimentos. As emoções vêm de repente! Elas são o choque do que acontece no ambiente contra os nossos instintos (natureza). Se você se depara com uma situação de risco, você fica com medo; quando conquista algo, fica alegre; diante de um obstáculo, fica com raiva; diante da perda, fica triste. Estamos falando de emoções, que dependem mais dos seus instintos e menos do que o meio (ambiente) lhe ensinou ao longo da vida - sua parte racional. Esta parte racional ajudará a sua vontade a transformar a emoção num sentimento. A inteligência emocional aparece quando você decide (vontade) transformar até as emoções mais incômodas em algo bom. Ou seja, apesar da vontade não nos capacitar a definir tudo o que acontecerá no nosso entorno, ela nos capacita a transformar o que aconteceu em algo bom, nobre, produtivo - fenômeno conhecido como "fazer do limão uma limonada". Chamamos isso de sublimar ou transcender; é o que fazem aqueles que têm mais sucesso como líderes de si mesmos.


Quando você for fechado no trânsito por outro motorista, ao invés de alimentar a sua raiva, esbravejar e deixar o seu dia ir embora pelo ralo, pense que você está onde deveria estar, que o pequeno atraso ao qual você foi submetido lhe permitirá encontrar uma oportunidade logo adiante. Quando alguém arremessar uma pedra contra você, não arremesse de volta; use aquela pedra na construção dos seus sonhos. Pedras são arremessadas por quem as obteve e não soube como usá-las para construir. Quando sofrer uma perda, viva o seu luto, mas saiba o momento de reerguer a cabeça e seguir em frente compartilhando com o mundo o que você tem de bom, ou seja, influenciando as pessoas da melhor maneira que puder.


Perceba que ser emocionalmente inteligente é fazer escolhas para equilibrar as imposições do ambiente com a sua parte mais primitiva - sua herança genética, seu corpo físico, seus instintos. Fazer tais escolhas e obter equilíbrio para atingir um estado de flow exige racionalidade e contato com a realidade, o que também é chamado de maturidade. O líder de si mesmo é um indivíduo maduro, que não se magoa com pouco. O líder de si mesmo mantém a calma quando derrama café na própria roupa sem querer, porque tem autorresponsabilidade e sabe que não seria justo culpar a xícara. O líder de si mesmo prefere resolver as questões no diálogo ao invés de usar a violência, mas sabe ser firme, se necessário, com amor. O líder de si mesmo tem foco e disciplina, por ter aprendido que é preciso passar pelo deserto para chegar ao oásis.



Enfim, sua personalidade é a combinação da sua parte mais primitiva com o aprendizado que você obteve do ambiente e a sua vontade de conquistar um futuro melhor. O verdadeiro líder de si mesmo pode ter uma personalidade que move, que arrasta, que influencia muito mais pessoas do que o líder corporativo de um organograma empresarial. Noutras circunstâncias, o verdadeiro líder de si mesmo poderá, simplesmente, não querer assumir a responsabilidade de influenciar multidões. Ao invés disso, pode se satisfazer em conviver com as pessoas que ama, contemplar as belezas desse mundo, apoiar sua família, divertir-se com coisas simples. Seja qual for o seu estilo de liderar a si mesmo, o importante para todos nós é ser feliz!

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