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Tipos de Neuroses

  • Foto do escritor: Fabiano Parreiras
    Fabiano Parreiras
  • 20 de nov. de 2024
  • 8 min de leitura

As neuroses são um dos pilares do estudo psicanalítico. Elas constituem manifestações de conflitos psíquicos internos. Conteúdos recalcados encontram vias indiretas de manifestação no comportamento, nas emoções e até no corpo.


O QUE SÃO AS NEUROSES

No livro “A Interpretação dos Sonhos”, publicado em 1900, Sigmund Freud propõe um aparelho psíquico dividido em três partes, no que chamou de Modelo Topográfico:

  1. Consciente

  2. Pré-consciente

  3. Inconsciente


Vinte anos mais tarde, em “Além do Princípio do Prazer”, Freud apresentou sua segunda tópica, a qual se encaixava ao modelo anterior, chamada de Modelo Estrutural:

  1. Superego (Super Eu)

  2. Ego (Eu)

  3. Id (Isso)



A apresentação das duas tópicas de Freud é importante para explicar as neuroses. O Ego é parte consciente e tem contato com a realidade, sendo a instância responsável pela autoimagem do sujeito. Basicamente, uma grande parte do conteúdo do Id é reprovada pelo Ego.


Tal impedimento da manifestação do conteúdo inconsciente (o Id é todo inconsciente) pelo Ego é o fenômeno denominado “recalcamento”.


Num movimento que Freud chama de “econômico”, existe uma tendência permanentemente pelo equilíbrio da energia psíquica, que torna necessária a vazão das pulsões. Um conteúdo recalcado pode se juntar a outro para encontrar uma saída, fenômeno denominado condensação. Outra alternativa supõe a substituição de um conteúdo recalcado por outro que o Ego permita se manifestar, o que chamamos de deslocamento.


É aí que surgem as neuroses. Um conteúdo recalcado acaba emergindo ao se unir a outro, ou sendo substituído por outro, manifestando-se por meio de fobias, manias, compulsões e até doenças do corpo.


Há três tipos de neuroses:

  1. Neurose fóbica (Fobias)

  2. Neurose histérica (Histeria)

  3. Neurose obsessiva (Obsessão)


A histeria foi o tipo de neurose mais estudado por Freud durante a criação da Psicanálise. À época, seus mentores e outros médicos estavam às voltas com pacientes que apresentavam episódios de desmaios, paralisias, dores e outros sintomas, muitos deles somáticos. Todos esses sintomas foram incluídos na categoria de ‘neurose histérica’.


Diferentes métodos eram empregados nos tratamentos das chamadas “pacientes histéricas de Freud”. A hipnose vinha demonstrando resultados, mas casos de recaídas eram comuns, além de pacientes não hipnotizáveis. Então, Freud descobriu um método que lhe pareceu eficaz: levar a paciente a verbalizar naturalmente a causa do conflito psíquico que levava ao seu estado histérico. A verbalização do que gerou o trauma trazia desconforto à paciente e era difícil de se conseguir, na maioria das vezes. Mas no mesmo instante, os sintomas desapareciam. O método também se mostrou eficaz contra os outros dois tipos de neuroses – fóbica e obsessiva.


A neurose fóbica se caracteriza por um medo excessivo de um determinado ser, objeto ou situação em particular. A pessoa fóbica pode ficar paralisada diante do objeto da fobia (ou da ideia dele), ou colocar a própria vida em risco na tentativa de fugir daquilo que o apavora.


A neurose obsessiva, por sua vez, também se caracteriza por ideias distorcidas acerca de pessoas, coisas ou situações, contudo, podendo se manifestar com outras emoções além do medo. Não obstante, o obsessivo costuma levar consigo sua obsessão e sofrer com ela o tempo todo ou na maior parte do tempo.


Diferenças entre Neuroses Obsessivas e Neuroses Fóbicas (Freud, 1895 | 1996):

 

Obsessões

Fobias

Emoção

Podem ser diversos (dúvida, remorso, raiva, ou outra)

A emoção é sempre o medo

Objeto

Pode mudar (raiva de uma pessoa, depois, de outra)

Não muda (a fobia de aranhas não passará a ser de cobras)

Estado emocional

Permanente ou frequente

Só em condições especiais, que o paciente evita cuidadosamente

NEUROSE FÓBICA

A fobia se caracteriza por um medo desproporcional de um ser, objeto, situação ou manifestação. Mesmo em se tratando de seres dos quais todos guardamos certa precaução, como aranhas, por exemplo, é possível perceber a diferença entre uma pessoa normal e um fóbico, pois este demonstrará pavor e medidas nada razoáveis diante do objeto de sua fobia.


Para Ward (2005), a pessoa fóbica não sabe por que tem medo, ao contrário daquela que sabe por que ri, quando ouve uma piada. Apesar de todos os prejuízos que a fobia possa causar, trazer sua origem à consciência ameaça causar um prejuízo ainda maior (a dor de um abandono, de uma humilhação, etc). Sendo assim, o conteúdo original é recalcado e vemos apenas o sintoma se manifestando como fobia.


Ward (2005) alerta para o sentido “descritivo” do termo fobia. Duas crianças podem não querer ir à escola. Uma delas está cansada das agressões dos colegas. A outra, ao se aproximar dos portões da escola, apresenta tremores, sudorese e um olhar de pavor, sem saber expressar o verdadeiro motivo de não querer entrar na escola. A primeira apenas detesta a escola. A segunda tem seu medo alimentado de dentro. Mesmo assim, no sentido descritivo, é comum ouvirmos dizer que ambas têm ‘fobia’ de escola.


Não é fácil explicar por que um determinado estímulo, a uma certa pessoa, gerou uma fobia e não uma inibição, um sintoma somático ou um estado difuso de angústia. Os acontecimentos psíquicos têm muitas causas. Cada pessoa é única, com suas propensões genéticas e experiências vividas desde o ventre, passando pelo nascimento e se organizando de alguma forma ao longo dos dias, meses e anos.


Segundo Ward (2005), há duas hipóteses comuns para as causas de fobias:

  1. Origem biológica – o medo de aranhas, cobras e lugares altos, por exemplo, seriam resquícios do nosso passado evolucionário diante de perigos reais enfrentados por nossos ancestrais. Seria como se um mecanismo de autopreservação transmitisse informações relevantes para nossa sobrevivência por meio dos nossos genes.

  2. Origem traumática – é uma teoria simples e considera que uma criança que assiste alguém sendo atacado por um cão pode desenvolver fobia por cães, por exemplo.


Em relação à primeira hipótese (origem biológica), é importante notar que o medo que todos temos de cobras e que nos faz evitá-las é diferente de uma fobia aterrorizante e até paralisante diante da ideia de que uma cobra possa surgir.


A teoria do trauma, por sua vez, parece plausível ao se descobrir que a fobia só se manifesta alguns meses ou anos depois do suposto incidente traumático. E algo menos direto pode também gerar um trauma.


Além disso, há quase sempre um conjunto complexo de fatores – Ward (2005).


Uma jovem buscou ajuda na Psicanálise para tratar sua fobia de animais com penas. Desde grandes perus até os pintinhos mais inofensivos lhe causavam pavor, ao ponto de colocar sua vida em risco. Numa das sessões com o Psicanalista, a paciente relatou ter tropeçado e caído ao dar a volta por um local inapropriado ao trânsito de pessoas, tentando evitar as pombas que comiam migalhas alegremente numa praça. Após algumas sessões com o Psicanalista, a paciente contou que não tinha coragem de contar à família que era homossexual. Tendo sido devidamente acolhida na análise, depois de outras tantas sessões, a jovem encheu-se de coragem e contou aos pais sobre sua homossexualidade. Imediatamente, a fobia de animais com penas desapareceu. Das diversas denominações pejorativas que o órgão sexual masculino recebe, as mais comuns são de tipos de aves. A fobia da jovem não seria uma forma de gritar a todos que não desejava se relacionar com homens?


NEUROSE HISTÉRICA

Borrosa (2005) comenta o quanto é difícil explicar algo que pode parecer tão simples como a histeria. A expressão artística, o poder de sedução, a necessidade de coisas em excesso, o comportamento social inadequado, a adoção de modismos — tudo isso tem atraído o epíteto de "histérico".


Entre os sintomas clássicos da histeria, os estudiosos da época de Freud incluíam:

• Tosse

• Perda da audição

• Acessos dramáticos

• Ataques de desmaios

• Vômitos persistentes

• Paralisia dos membros

• Sensação de sufocação

• Incapacidade repentina de falar

• Incapacidade de ingerir alimentos

• Esquecimento da língua materna

• Proficiência em idiomas que o indivíduo parecia não dominar


Um aspecto tido como fundamental na histeria era sua manifestação no corpo do paciente, de forma possivelmente mutável, sem uma causa concreta. Historicamente, a histeria era ligada à mulher. Mas pacientes do sexo masculino também foram analisados como histéricos.


Borrosa (2005) explica por que o termo “histeria” tem sido pouco usado:


Nas primeiras décadas do século XX, ela (a histeria) simplesmente se ramificou em tipos variados de distúrbio, em diagnósticos diferentes para sintomas então diferenciados. Por exemplo, os distúrbios do apetite, que haviam sido um dos sintomas mais comuns da histeria, passaram a ser vistos como distúrbios “novos”: anorexia, bulimia, ingestão compulsiva de comida. Do mesmo modo, o distúrbio de personalidade múltipla poderia ser considerado um ramo da histeria.


Talvez possamos resumir a histeria como sendo uma forma de expressão. Tudo aquilo que não é dito pelo sujeito de forma direta, acaba sendo de forma indireta, pelo corpo.


NEUROSE OBSESSIVA

Para Freud (1893-1895), a neurose obsessiva é muito mais fácil de compreender do que a histeria porque na neurose obsessiva não há a passagem ao somático que há na histeria.


Antes de seguir diretamente na explicação da Neurose Obsessiva, faz-se necessário esclarecer que, para a Psicanálise, completar todos os estágios do desenvolvimento de uma pessoa com sucesso é fundamental para obter uma personalidade saudável na vida adulta. O primeiro desses estágios é chamado de “primeira infância” e vai do nascimento até os seis ou sete anos de idade. A primeira infância é assim subdividida:

  1. Fase Oral (0-1 ano)

  2. Fase Anal (1-3 anos)

  3. Fase Fálica (3-6 anos)


Quando há problemas numa dessas etapas, ocorre o que chamamos de fixação (na etapa), resultando em uma personalidade prejudicial.


Posto isso, Julien (2003) cita o artigo de Freud intitulado “Caráter e erotismo anal”, de 1908, o qual estabelece vínculo entre a fase anal e a neurose obsessiva com sintomas de preocupação de ordem ou de limpeza e com os de teimosia.


Julien (2003) relaciona as obsessões propriamente ditas como formações de compromissos:

• Auto-reprovações

• Inibições em agir

• Isolamento de uma representação

• Anulação de acontecimentos passados

• Rituais privados


Para Reis (2024), a neurose obsessiva é uma “doença do pensamento”. O próprio pensamento é julgado e avaliado como um desejo. Ou seja, pensar em algo que pode acontecer é sentido como um desejo de que aquilo aconteça, o que provoca angústia e medo.


Reis (2024) esclarece que a neurose obsessiva pode estar associada a processos ligados ao contágio e ao contato. Já os atos ligados às ideias obsessivas são comportamentos compulsivos.


A ideia obsessiva é um pensamento que adquire uma força de fixação, um desejo de que algo se realize. E quando o recalcamento, o desligamento entre duas representações, ou entre um representação e um afeto, como citado no início, ameaça ser desfeito, aparece uma defesa secundária: os atos. São os atos compulsivos. Temos assim, a Neurose Obsessiva Compulsiva.


Verificação é uma palavra que explica bem a obsessão. Muitos obsessivos possuem o hábito de fazer listas ou lavar repetidamente as mãos. É também o caso de alguém que sabe que trancou a porta, mas volta para conferir se realmente a trancou.


O que gera a verificação é a dúvida. O obsessivo teme o desejo porque uma das faces do desejo é justamente o risco. Trata-se de uma luta permanente entre o Supereu e o Isso. O resultado é uma tremenda falta de confiança em si mesmo. Por conseguinte, falta confiança no outro.


Voltando às fases do desenvolvimento, o sujeito com fixação na fase anal costuma apresentar falta ou excesso de organização. Aquilo que está fora do lugar pode incomodá-lo profundamente e levá-lo a ser rude com as outras pessoas, caso as coisas estejam “fora do lugar”. É um traço do neurótico obsessivo.


A NEUROSE PARA O PSICANALISTA

O conhecimento mais profundo dos tipos de neuroses é uma obrigação do Psicanalista. Afinal, a Psicanálise não tem a pretensão de tratar psicóticos e pervertidos. É justamente o neurótico o alvo da Psicanálise.


A boa compreensão dos tipos de neuroses permitirá conduzir melhor o processo psicanalítico com os pacientes, fazendo surgir as perguntas necessárias para que cada paciente faça sua própria análise e compreenda melhor sua condição de vida.


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